Como controlar a raiva com os filhos? 10 maneiras para não surtar
Imagine o seguinte cenário.
Você e seus dois filhos pequenos, de 5 e 6 anos, estão no supermercado.
Ao mesmo tempo em que você está repassando, mentalmente, tudo o que precisa comprar, está preocupado(a) com uma tarefa pendente do trabalho.
E, enquanto isso, as crianças estão tagarelando, na delícia de um mundo sem boletos, e você mal está prestando atenção, porque sua cabeça já está cheia.
Seu filho mais novo, de 5 anos, vê uma escova de dentes que vem acompanhada de um brinquedo dos Vingadores.
Ele não precisa de uma escova de dentes nova, claro, mas ele precisa, subitamente, daquele brinquedo, como se a vida dele dependesse disso.
Diante de uma negativa sua – afinal, pagar R$ 18 por uma escova que ele sequer precisa não era razoável -, a criança puxa todo o ar dos pulmões e abre um berreiro!
De repente, você tem vontade de sumir…
Todo aquele estresse do dia acaba resultando em uma reação exagerada, que também envolve um grito e olhares julgadores de todos os outros pais que estão no supermercado.
A criança chora ainda mais, e você se sente um(a) monstro(a), alguém que certamente deveria ser interditado pelo Conselho Tutelar.
Você rapidamente coloca a escova de dentes no carrinho e torce para que a criança se acalme até chegarem ao caixa.
E aí, já vivenciou uma situação como essa?
Não se preocupe. Falaremos mais sobre como controlar a raiva com os filhos neste artigo.
Mas, antes de começar, esclarecemos: você não é um(a) monstro(a), e sentir raiva é normal.
Siga lendo!
Sentir raiva dos filhos é normal?
A paternidade e a maternidade não são experiências simples.
Elas são capazes de mudar a vida inteira de uma pessoa e, geralmente, todas as prioridades mudam.
O centro da vida do pai e da mãe passa a ser o filho, e isso é recompensado pelo sentimento de amor incondicional que aquela pequena criatura está proporcionando.
Mas a paternidade e a maternidade não são feitas somente de alegria.
Há momentos difíceis, de bastante sacrifício pessoal, e é normal sentir emoções negativas com relação aos filhos de vez em quando.
Assimilar isso, porém, não é tão fácil, e os papais se enchem de culpa quando se dão conta que sentiram raiva das crianças.
Como lidar com essa equação tão complexa?
A tendência dos pais é interpretar esses sentimentos como algo inapropriado, errado e indesejável.
Porém, explica a psicóloga Thais Rabanea, especializada em Neuropsicologia pela Universidade Federal de São Paulo, apesar de ter potencial destrutivo, a raiva pode ser importante para o desenvolvimento de habilidades essenciais – tanto para os pais quanto para as crianças.
A raiva não deve ser ignorada – pelo contrário, deve ser compreendida.
É preciso refletir sobre os motivos que levaram você a sentir raiva – é importante entender se foi causada por um comportamento do filho ou se a raiva é sintoma de algo mais profundo.
Preste atenção em si mesmo(a): você consegue comunicar aos filhos que está sentindo raiva e que precisa de um tempo, ou a única forma de reagir é com gritos e agressividade?
Veja também: Gritar com os filhos: 3 motivos para largar esse hábito
Se a resposta for a segunda opção, é preciso se esforçar para entender, dentro de si, o que está causando essas reações extremas.
10 maneiras de controlar a raiva com os filhos
1. Seja compreensivo(a)
Imagine que você disse ao seu filho para não subir no sofá.
O que a criança faz? Sobe no sofá. E cai.
Ela está machucada e, possivelmente, chorando.
A melhor maneira de reagir é ter empatia e compaixão.
É difícil, nós sabemos, mas não é o momento de xingar o seu filho e colocá-lo de castigo.
2. Procure entender os motivos
Dependendo da faixa etária, as crianças desafiam os pais – às vezes, propositalmente.
Em outras idades, choram – por sono, fome ou birra.
Procure entender se esse é um comportamento normal para a idade do seu filho.
Se souber que aquela é uma reação comum para a faixa etária, é mais fácil se acalmar e deixar passar.
3. Priorize o diálogo
Mesmo quando estiver muito irritado(a) e contrariado(a) pelo comportamento do seu filho, tente manter a calma e conversar.
Pode parecer praticamente impossível, mas, geralmente, há um motivo para as crianças agirem desta forma.
Ao priorizar a conversa entre pais e filhos, você vai mostrar que a criança tem liberdade de se comunicar.
Isso vai gerar um sentimento de acolhimento e de segurança emocional.
E, quanto mais você conversar com os filhos sobre as suas emoções, mais à vontade os pequenos se sentirão para falar sobre as deles.
Leia mais sobre isso: Como falar sobre emoções com os filhos
4. Espere a raiva passar
Conte até 10.
Sério! Parece um conselho inútil, mas é verdade.
Procure controlar a emoção e não reagir imediatamente.
Você pode, inclusive, comunicar isso às crianças.
“Estou muito bravo(a) agora. Vamos conversar mais tarde.”
Claro, é preciso respirar fundo para conseguir fazer isso, mas você não vai se arrepender de conversar com os pequenos somente quando estiver com a cabeça fria.
Ah! E não ignore o ocorrido depois que a raiva passar.
É importante conversar com os filhos para que eles entendam os motivos pelos quais você não gostou do que aconteceu.
5. Coloque-se no lugar da criança
Nem sempre as crianças fazem o que fazem para nos irritar.
Afinal, elas ainda não têm o discernimento do que é certo ou errado, e nem sempre conseguem perceber quando já estamos esgotados por algum outro motivo.
Por isso, para entendê-las melhor, é preciso fazer um exercício de empatia, se colocar no lugar do pequeno e se perguntar o motivo pelo qual eles estão agindo daquela maneira.
Elas podem não entender exatamente o peso das responsabilidades de um adulto, mas certamente poderão oferecer um colo e um carinho quando os papais estiverem muito cansados.
6. Não leve tão a sério
Seus filhos fizeram arte?
Tente levar aquilo na brincadeira.
É claro que existem casos e casos, mas é possível que, ao estarmos muito cansados e sobrecarregados, exageremos na reação.
Antes de tudo, faça uma pausa e pergunte-se se aquilo é tão sério assim.
Caso não seja, permita-se rir e tratar o assunto com leveza, sempre deixando claro os motivos pelos quais a criança não deveria ter feito aquilo.
Veja, neste link, algumas dicas de como agir quando os filhos fazem alguma “arte”.
7. Cuide de si mesmo(a)
Por mais que você pense que precisa estar disponível 24 horas por dia para os filhos, é importante ter um tempo para si mesmo(a).
Isso porque uma pessoa saudável, com a cabeça no lugar, certamente estará mais disposta e mais serena para lidar com os desafios do dia a dia.
Faça terapia, pratique exercícios, tenha um hobby e alimente-se bem.
Para cuidar bem dos filhos, é preciso cuidar de si em primeiro lugar.
8. Peça desculpas
Não é fraqueza, não é vergonhoso.
Os pais também erram, também exageram e também têm reações inadequadas.
Se você explodir, converse com a criança quando se acalmar.
Peça desculpas e reconheça que não agiu da melhor maneira possível.
Além de estreitar o vínculo por meio do diálogo, você já estará ensinando o pequeno a se retratar quando comete um erro.
9. Leia mais sobre disciplina positiva
É possível educar sem punições ou castigos.
Se você se tornar adepto(a) da disciplina positiva, vai acabar priorizando sempre o diálogo e o espírito colaborativo entre pais e filhos.
Para aplicá-la, será preciso reeducar-se também.
E, talvez, os acessos de raiva se tornem menos frequentes, porque você já está condicionado(a) a adotar uma postura mais harmônica com relação aos problemas familiares.
Neste artigo, você vai descobrir tudo o que precisa sobre a disciplina positiva.
10. Evite recompensar a criança por culpa
Veja se você se identifica: seu filho acabou de derrubar um vaso caro que você ganhou, depois de você ter dito, mais de uma vez, para não tocar nele.
Como resultado, você se irritou e gritou com a criança, que começou a chorar pelo susto – por causa do barulho do vaso quebrado e do grito.
Imediatamente, seu coração será inundado de culpa.
“Sou uma péssima mãe”, você se repetirá.
Calma. Você não é uma péssima mãe e o seu filho não é um péssimo filho.
Converse com ele.
Evite, nesse momento de culpa, recompensá-lo com um doce, com um presente, com uma permissão que normalmente ele não teria (por exemplo: ver TV até mais tarde).
Essa tática não é recomendada: se a criança perceber que isso acontece sempre que a mãe ou o pai estão nervosos, pode se acostumar a viver nesse padrão.
Atenção à culpa materna
Nossa sociedade, estruturalmente machista, não permite que as mulheres tenham sentimentos exacerbados.
Raiva, frustração, angústia?
“É tudo TPM”, dizem.
Quando o assunto é ter raiva dos filhos, então, muitas mulheres preferem sequer expressar o sentimento, por medo do julgamento alheio.
É mais um estereótipo ao qual as mulheres são, diariamente, submetidas: precisam se comportar como anjos de candura, ou são equiparadas às vilãs da Disney.
A raiva materna é um sentimento natural, como outro qualquer.
Pode ser ocasionada por diversas questões.
A chegada de um segundo filho, a perda de alguém, uma doença ou uma separação.
Essas situações acabam gerando um estresse muito grande e, às vezes, a mãe está tão sobrecarregada com todas as demandas que acaba descontando nos filhos.
Também pode ser uma reação a um comportamento da criança – por exemplo, quando tem ataques de birra em público.
Nessas ocasiões, as mães são frequentemente julgadas, como se aquele fiasco da criança fosse um sintoma de uma criação inadequada.
Principalmente na primeira infância, a maternidade exige muito da mãe.
Exige dedicação e atenção em tempo integral, e a vida daquela mulher acaba ficando em segundo plano.
Não há tempo para descansar ou para dedicar a si mesma.
Atenção: mães não são robôs.
Quando as mamães se sentem insuficientes, a reação pode ser um acesso de raiva.
É difícil (quase impossível, na verdade) cuidar de si, dos filhos, da casa, da família, do trabalho.
E, ainda por cima, estar sempre serena e bem-humorada.
O primeiro passo para lidar com isso é reconhecer o que você está sentindo.
Sim, você está com raiva, e sim, isso é normal.
Tentar negar ou fingir que não está sentindo isso pode fazer com que a pessoa acabe explodindo.
Uma reação desproporcional, causada por um acúmulo de sentimentos, acaba fazendo com que a mãe se sinta culpada, se sinta uma péssima mãe, e este é um sentimento nocivo.
É preciso se entender, se perdoar e buscar ajuda se as explosões estiverem muito frequentes. Por isso o autoconhecimento é tão importante, para que possa buscar, dentro de si, significados sobre o que se pensa e sente.
Lembre-se: não há nada errado com você.
A raiva pode ser um sinal de depressão?
Se você estiver se sentindo constantemente irritado(a), procure ajuda.
Não sinta vergonha.
Pense: se você estivesse com uma dor de barriga constante, iria a um gastroenterologista, certo?
Se está se sentindo sempre em desalinhamento emocional, é preciso verificar o motivo pelo qual isso está acontecendo.
Uma boa conversa com um psicólogo pode elucidar vários pensamentos confusos.
Também é mais fácil tomar percepção das próprias atitudes e ter maior controle sobre elas.
Fique atento(a): se você tiver explosões de raiva com muita frequência – três ou mais vezes por semana – ou aquela sensação de estar sempre prestes a explodir, é hora de pedir ajuda.
A raiva constante pode, sim, ser um sintoma de algo mais complexo, como depressão ou ansiedade.
O mais provável é que seja resultado de um acúmulo de estresse.
Fique atento também à idade da criança.
Se seu filho ainda for um recém-nascido ou um bebê muito pequeno, você pode estar enfrentando uma depressão pós-parto.
A boa notícia é que tudo isso pode ser tratado: você não precisa se sentir assim, ok?
Seja como for, não deixe de procurar ajuda!
Procure um psicólogo ou um psiquiatra. Fará uma diferença enorme na sua vida e na da sua família!
Evite se afogar na culpa!
Qualquer ataque de fúria é imediatamente sucedido de uma sensação terrível de culpa.
Procure se entender e se perdoar.
Isso porque a culpa pode agravar ainda mais o estresse que você já está sentindo!
Aproveite o momento para conversar com o pequeno.
Assuma suas emoções e se acolha.
Você não é o(a) primeiro(a) nem o(a) último(a) pai ou mãe a vivenciar algo parecido.
E, mais uma vez, procure ajuda, se sentir que a situação está fora de controle.
Já passou por isso? Conte para nós, nos comentários, como você lidou.